O guideline publicado em fevereiro de 2018 pela associação européia de tireóide, traz recomendações sobre as disfunções tireoidianas induzidas pelo tratamento com a amiodarona, sendo um guia prático para ajudar no manejo adequado desses pacientes.
A Amiodarona é uma droga rica em iodo, especialmente eficaz no tratamento das arritmias supraventriculares, que pelo seu alto conteúdo de iodo (37% do peso molecular), com dissociação diária de iodo relativa a 10% da droga circulante e ainda pelo efeito farmacológico de inibição da monodeiodinação periférica de LT4, causa alterações nos testes de função e pode causar disfunção tireoidiana. Estima-se que 15 a 20% dos pacientes tratados com amiodarona vão desenvolver Tireotoxicose Induzida pela Amiodarona (TIA), ou Hipotireoidismo Induzido pela Amiodarona (HIA).
O artigo (Eur Thyroid J 2018;7:55–66) publicado em fevereiro de 2018 transcorre sobre como a amiodarona afeta os testes de função; apresenta o perfil bioquímico do paciente eutireoidiano em uso da amiodarona (tendência a um TSH mais baixo com níveis de T4 no limite superior da normalidade ou pouco elevados e níveis de T3 na faixa normal baixa), além dos tipos de disfunção tireoidiana relacionadas ao uso deste importante antiarritmico, seu diagnóstico e tratamento. No caso do hipotireoidismo, o tratamento é simples, com levotiroxina, pode ser conduzido podendo manter o uso da amiodarona.
Material Complementar
AMIODARONA EUROPEAN GUIDELINE 2018Já a tireotoxicose induzida pela amiodarona (TIA) é dividida em 3 grupos: a tipo 1 que ocorre devido a uma biossíntese excessiva de hormônio tireoidiano por um tecido autônomo funcionante em resposta a alta carga de iodo e engloba aqueles com alteração glandular subjacente com frequente positividade para auto-anticorpos, o tratamento é com as tionamidas em doses altas e por períodos mais prolongados; posteriormente necessita terapia definitiva. O TIA tipo 2 é uma tireoidite destrutiva que ocorre em uma glândula tireoide normal, é autolimitada e tratada com glicocorticóides. Um tipo misto / indefinido é reconhecido quando os pacientes apresentam a sobreposição de ambos os tipos, tratada com tionamidas, podendo ser associado o uso de glicocorticoides. A ultrassonografia com doppler pode ajudar na diferenciação entre os tipos de tireotoxicose, devido a ausência de hipervascularização naqueles com tireoidite destrutiva; o uso de cintilografia com iodo é útil apenas nas áreas com baixo consumo de iodo.
O Consenso também cita as indicações para o tratamento de emergência com tireoidectomia total, que deve ser considerado principalmente em idosos com baixa FEVE. Cita a plasmaférese como um tratamento de efeito transitório, mas que pode ser uma opção para preparo do paciente com tireotoxicose para tireoidectomia.
Uma ótima leitura, para situação clínica muito relevante, não tão incomum, porém complexa.